A tourada é uma questão de ‘civilização’, disse a ministra da Cultura. Frase pedante, mas adequada ao espírito do tempo. Quando discutimos as touradas, não falamos apenas sobre o bem-estar do touro ou o valor de uma tradição. Discutimos o que os eruditos designam por ‘especismo’, ou seja, a crença de que a nossa espécie é superior às restantes. Para mim, essa crença continua válida, mesmo que eu não aprecie touradas. Para os animalistas, não. O touro, ou a vaca, ou o cão (mas não as moscas ou as pulgas) estão no mesmo patamar de um ser humano. ‘Civilização’, para eles, é não fazer distinções entre bípedes e quadrúpedes.
É por isso que a proposta de vestir o touro de velcro está condenada ao fracasso (a médio prazo). O problema não está no sangue que jorra na arena. Está em qualquer manifestação pública de superioridade dos homens sobre os animais. Hoje, é o touro. Amanhã, será o bife com ovo a cavalo.
Publicado no Correio da Manhã
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