Infidelidade: não existe outro tabu que seja tão universalmente condenado e tão universalmente praticado. Boa frase. Não é minha. Pertence a Esther Perel e a revista “1843”, do grupo “The Economist”, dedica-lhe um artigo (“What’s Wrong with Infidelity?”).
A dra. Perel, belga, 58, é a psicóloga do momento para problemas de conjugalidade – e infidelidade. A sua missão é simples: desdramatizar. O casamento não extingue os desejos que permanecem na natureza humana. E a sociedade contemporânea não ajuda: antigamente, diz ela, era possível dar o nó e passar anos e anos com a mesma criatura (e um sexo assim-assim). Hoje, a oferta é variada (e a procura, idem).
Além disso, acrescenta a doutora, é um erro condenar o infiel e simpatizar com o elemento enganado. As “culpas”, se a palavra se aplica, são muitas vezes repartidas. E, em certos casos, residem apenas no enganado. Como explicar, então, o moralismo que paira sobre o assunto?
Resposta da doutora: porque a fidelidade é a última coisa que define um casamento. Já não é o sexo, que começa antes. E já não são os filhos, que podem nem aparecer. É a fidelidade, essa relíquia.
Compreendo as subtilezas de Esther Perel. Mais: conheço casos de infidelidades que salvaram casamentos. Mas também conheço infidelidades que destruiram famílias. Eis o problema dos vários raciocínios da dra. Perel: há falhas lógicas evidentes que, moralismos à parte, não me convencem.
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Artigo publicado na íntegra na Folha de São Paulo