Hoje, qualquer ocidental tem uma ‘fatwa’ sobre a cabeça
Em 1989, o ayatollah Khomeini condenou Salman Rushdie à morte. Parece que o escritor ofendera o Profeta com os seus ‘Versículos Satânicos’ e Teerão aplicou a terapia conhecida aos blasfemos.
Passaram 27 anos. E, 27 anos depois, a Academia Sueca, que atribui todos os anos o Nobel da Literatura, criticou finalmente o gesto de Khomeini. Mais vale tarde que nunca, diz o povo. Mas esta atitude revela bem o que mudou entretanto. Em 1989, a condenação a um escritor era um assunto exótico e distante – e não valia a pena sujar as mãos por tão pouco, ou seja, pela liberdade de expressão. Hoje, qualquer cidadão ocidental tem uma ‘fatwa’ sobre a cabeça; até os membros da Academia Sueca. Rushdie somos nós.
Naturalmente que, para que a redenção fosse completa, só faltava aos suecos dar o Nobel a Rushdie.
A seu tempo. Primeiro, é preciso mais alguns cadáveres pelo caminho.
Artigo publicado no Correio da Manhã
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